Se, como disse Ruy Belo, “a poesia deve, entre outras coisas, contribuir para fundar uma sociedade mais justa”, em tempos tão difíceis e perigosos como os que hoje vivemos, é certamente importante termos em conta a maneira como os poetas encaram as relações entre poesia e resistência, quer pensando a resistência na poesia, quer pensando a resistência da poesia.
Adorno articulava a noção de resistência com a exigência de uma verdadeira vida, e Deleuze atribuiu à escrita, uma “saúde” que consistiria em “inventar um povo que falta”, em inventar “uma possibilidade de vida”. Nos termos de Deleuze, à literatura caberia “escrever por esse povo que falta”, isto é, em sua intenção, para que ele seja possível.
É importante percebermos de que modo a poesia desempenha esse papel. E é importante percebermos como encara o seu lugar (e a sua própria resistência) numa sociedade que tudo mercantiliza. Assim, e na sequência do Colóquio Poetry and Resistance, realizado na Brown University (Providence, 2011), a Rede Internacional LyraCompoetics (cujo portal é gerido pelo Instituto de Literatura Comparada Margarida Losa da Faculdade de Letras da Universidade do Porto), está a enviar, a poetas das diferentes nacionalidades representadas pelos seus investigadores, o seguinte conjunto de questões: “A poesia é uma forma de resistência? Sempre, por definição? Ou apenas em determinados contextos – sociais, políticos, culturais? Como pode resistir a poesia e a quê?”
As respostas recolhidas até ao momento, de autores portugueses e brasileiros, estão disponíveis no portal (Cordas da Lyra/ Poesia e Resistência). Ao mesmo tempo que contribuem para um melhor entendimento do lugar da poesia no mundo em que vivemos, essas respostas podem, sem dúvida, ajudar-nos a pensar o mundo em que queremos viver.
Fonte: noticias.up.pt