A conclusão é de vários especialistas, reunidos em conferência, para analisar passado, presente e futuro da região.
A produção de vinho, azeite, leguminosas e frutas, a recuperação de adegas e do tecido associativo, preservando os costumes, técnicas ancestrais e incorporando novas tecnologias, são o futuro da região demarcada do Douro.
A posição é defendida por investigadores, dirigentes e empresários, que se reúnem hoje, na Conferência “Douro: Passado, Presente e Futuro”, organizada pelo Departamento de Agronomia e pelo Centro de Investigação e de Tecnologias Agroambientais e Biológicas (CITAB) da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
“A atual situação económica e social do Douro, com uma população envelhecida e empobrecida, torna urgente a adoção de um programa unificado, integrado e inclusivo, desde as autarquias, à Universidade, ao tecido cultural, empresarial e associativo, que têm falhado ao longo dos anos por falta de condução política e pela conjuntura”, alerta o historiador Gaspar Martins Pereira.
O também colaborador na preparação da candidatura da região demarcada a Património Mundial defende que a criação de emprego é essencial para incentivar o desenvolvimento.
“A solução é apostarmos em medidas capazes de gerar atratividade para jovens qualificados, desenvolver novos setores, como a agroindústria e o turismo, promover a empregabilidade e a afirmação de capacidade negocial e regional na cadeia de negócios”.
A posição é partilhada pelo Diretor do CITAB, Eduardo Rosa. “O nosso Centro tem apostado, e vai continuar a apostar, na valorização das cadeias de produção agrícola através da otimização dos recursos naturais, dos fatores de produção e da incorporação de novas tecnologias, apoiados por projetos nacionais e sobretudo internacionais e na inovação e promoção de novos produtos.”
Para Alexandre Guedes, do Turismo do Porto e Norte de Portugal, os três pilares - Agroindústria, Património e Turismo - são também fundamentais e estão interligadas, pois “o potencial económico do património genético duriense é indutor de práticas turísticas.”
O responsável denota, no entanto, “dois fenómenos do desenvolvimento recente do turismo, com resultados antagónicos”. Por um lado, “a navegabilidade turística que floresce no rio” e, por outro, “uma certa estagnação (e nalguns casos decréscimo) da procura no terroir”, considera o chefe da Divisão de Gestão e Planeamento em Turismo.
Novas Tecnologias – casos de estudo
Em sentido inverso, seguem a racionalização e a mecanização dos trabalhos na vinha. Fernando Alves, da Symington Family Estates, aponta verdadeiros “ganhos de eficiência obtidos com os avanços tecnológicos e a evolução das operações vitícolas, nos últimos 25 anos”.
Numa perspetiva histórica, o responsável analisa os séculos XIX e XX no Douro e revela “grandes alterações nas práticas culturais”, salientando “a introdução das novas sistematizações da vinha de encosta”.
Também Luís de Barros, administrador da Enoteca - Quinta da Avessada, a única enoteca interativa da Europa, sublinha “a requalificação de um espaço centenário com alta tecnologia associada, que permite aos visitantes fazer uma viagem ao passado”, como “uma das mais-valias” do projeto que dirige há 6 anos.
“É uma atividade com passado, presente e futuro, que se baseia no turismo, com caraterísticas especiais, que é recente, e cuja mais valia é a História. A nossa forma de viver é muito importante para os turistas estrangeiros”, esclarece o proprietário da quinta.
Os números corroboram que os visitantes procuram cada vez mais este serviço, onde experienciam a região através da vindima, da gastronomia e dos vinhos: as reservas para 2014 e 2015 estão praticamente fechadas e as previsões para o próximo ano apontam para os 40 mil visitantes, sendo 95% dos turistas estrangeiros, dos quais 70% americanos.
Internacionalização, Modernidade e Identidade
O mercado externo e a internacionalização do Douro são, para Gaspar Martins Pereira, uma potencialidade a explorar, juntamente com a capacidade de inovação e de manutenção da identidade da região.
“O futuro, a construir dia a dia, dependerá da forma como os durienses de hoje souberem conjugar o património herdado com a modernidade, nessa forma tão sua de estar no mundo sem esquecerem as suas raízes, ligando o local ao universal, assumindo como sua a máxima de Torga, ‘o universal é o local sem as paredes’. É nessa ligação entre o Douro e o mundo que pode residir o seu futuro.”
O ex-diretor do Museu do Douro refere também que a chave para o sucesso da região está na potencialidade, sensibilidade e gestão dos jovens.
“Penso que o futuro dependerá muito da forma como a nova geração de durienses souber traduzir a tradição em modernidade e introduzir modernidade no ambiente tradicional do Douro, sem destruir a sua identidade. Trata-se de um equilíbrio difícil, como um blend de um velho tawny, mas só esse equilíbrio poderá garantir o futuro do Douro”, conclui.
Fonte: www.utad.pt