Oficina CEER
 04-02-2015
EDUCAÇÃO SEXUAL: MAIORIA DAS ESCOLAS CONTINUA “EM INCUMPRIMENTO DA LEI”

Investigação de Zélia Anastácio, do Instituto de Educação da UMinho, pretende apoiar profissionais nesta área.

Um estudo da Universidade do Minho revela que a generalidade das escolas dos ensinos básico e secundário “está em incumprimento da lei” no que diz respeito à educação sexual. Apesar de existir legislação desde 1984, ainda há professores “objetores de consciência” e instituições que preferem evitar “questões fraturantes”, como o aborto e a orientação sexual, afirma a investigadora Zélia Anastácio. A solução está na realização de ações capazes de formar devidamente os profissionais, desinibindo-os perante determinados temas e derrubando conceções erróneas que limitam a sua atuação.

A especialista, que trabalha o tema da sexualidade há quase duas décadas, está a coordenar um projeto, apoiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia, que visa munir os professores e técnicos de escolas e instituições de acolhimento de competências para o ensino “adequado” da educação sexual. Na prática, pretende-se que estes profissionais saibam planear projetos educativos que respondam às necessidades reais das crianças e dos jovens. Dos cerca de 150 docentes envolvidos no estudo, a maioria referiu não se sentir “preparada” para lecionar educação sexual, “por esta não se relacionar com a sua área de formação”. Um receio que foi ultrapassado com a participação em formações intensivas.

São várias as atividades que podem ser desenvolvidas junto das crianças e dos jovens no sentido de os educar para uma sexualidade saudável e inclusiva. Por exemplo, realizar brainstormings em grupo, “caixas de perguntas” e debates dedicados a temas “sensíveis”. Os resultados do trabalho revelam, ainda, que a dimensão biológica – relações sexuais, resposta sexual humana e conceção, entre outros – é a mais “intimidante”. E os professores que mostram maior abertura para trabalhar o assunto tendem a ser mais jovens, solteiros ou divorciados.

Pais são os “eternos fantasmas” dos docentes

A reação dos pais surge como o “eterno fantasma” dos professores, realça Zélia Anastácio, que garante, contudo, não conhecer muitos casos de “resistência”. “A educação sexual não deve ser tratada de forma diferente e os docentes não têm de pedir autorização aos pais. Trata-se de um direito consagrado na legislação, além de ser uma questão de direitos humanos – o acesso à informação”, afirma a cientista do Centro de Investigação em Estudos da Criança do Instituto de Educação.

A primeira lei portuguesa sobre educação sexual surgiu há mais de 30 anos. A sua inclusão nos programas escolares só começou a ser obrigatória a partir de 1999. “A legislação é mais do que suficiente”, sublinha a investigadora. “Com o reforço legislativo de 2009, apostou-se na formação e no desenvolvimento de estratégias personalizadas. Esta ‘determinação’ tende a perder-se com o tempo, e é preciso recordar que a lei não foi revogada”, reforça.

Fonte: www.uminho.pt